sexta-feira, 18 de maio de 2012

Subprojeto Cinemas e Novas Mídias em passeio cultural por Curitiba!


Qualquer canção de bem
Algum mistério tem
É o grão, é o germe, é o gen
Da chama
E essa canção também
Corrói como convém
O coração de quem
Não ama

Se tomarmos a palavra “canção” expressa acima como representante das manifestações artísticas de forma geral, temos nesse pequeno trecho de Qualquer Canção, de Chico Buarque, uma ótima explicação para o valor que a arte pode assumir para a formação humana: qualquer “arte” de bem algum mistério tem, é o grão, é o germe, é o gen da chama. Como chama, entendemos aqui a manifestação de nossa percepção, das nossas emoções, daquilo que reage em contato com a essência da realidade representada na obra de arte. O grão, o germe e o gen são o princípio dessa reação, aquele estímulo manifestado quando entramos em contato com uma manifestação artística que nos faz ver o mundo “de uma maneira diferente daquela própria ao pragmatismo e ao imediatismo da vida cotidiana” (DUARTE, 2008, p.5). Dessa forma, podemos entender que a arte, de alguma forma, altera nossa visão do que já nos é comum e nos permite compreender novas realidades e percepções de mundo que talvez não nos fosse possível notar de outra maneira. Segundo Vásquez, “o homem é homem na medida em que cria um mundo humano, e a arte aparece como uma das mais elevadas expressões deste processo de humanização” (VÁSQUEZ apud MAXIMO, 2011, p.4).

Tendo em vista essa concepção de arte, o subprojeto do PIBID de Português/Francês, CINEMA E NOVAS MÍDIAS: FERRAMENTAS PARA A LEITURA DO MUNDO, e alguns colegas dos subprojetos do PIBID de Português/Inglês e Português/Espanhol, realizaram no dia 26 de abril um passeio cultural a Curitiba, com o objetivo de conhecer a Cinemateca, a Livraria Cultura e o Museu Oscar Niemeyer – importantes centros de cultura que reúnem mostras significativas do cinema, da literatura e das artes plásticas, nacionais e internacionais.

O passeio iniciou-se com a visita à Cinemateca de Curitiba, onde, acompanhados pelo projecionista Valdenício Pereira da Silveira, os acadêmicos assistiram ao filme brasileiro “Brasa Adormecida” (1987), dirigido por Djalma Limongi Batista, seguido por um pequeno trecho de “Braza Dormida” (1928), de Humberto Mauro – clássico da filmografia muda nacional e que foi homenageado pelo filme de Djalma. Após a exibição dos filmes, o grupo ainda contou com uma explicação sobre o processo de armazenamento das películas cinematográficas – serviço esse prestado pela Cinemateca – e sobre a técnica de projeção dessas películas.

Seguido à Cinemateca, os acadêmicos tiveram a oportunidade de conhecer a Livraria Cultura, recentemente inaugurada no Shopping Curitiba. Além de uma ótima chance para ampliarem suas bibliotecas particulares e descobrirem novas obras e lançamentos, a passagem pela livraria permitiu que os alunos entrassem em contato com essas “novas catedrais do livro que são as grandes livrarias de muitos andares” – como comenta Umberto Eco em sua obra Sobre Literatura (2002, p.11) –, que representam um universo de opções bem distante do que comumente se encontra nas livrarias comuns e que permitem que seus potenciais consumidores, mesmo que apenas folheando livros, entrem em contato com diversos estilos literários.

Para finalizar o passeio, os acadêmicos do PIBID seguiram para o Museu Oscar Niemeyer. Através de uma visita guiada, eles puderam conhecer, entre outras obras, as polêmicas e internacionalmente aclamadas gravuras do pintor espanhol Goya, da coleção denominada Caprichos de Goya, além de apreciar a mostra de fotografias do lituano Antanas Sutkus e a exposição com 800 itens da produção de Poty, um dos mais expressivos artistas do Paraná.

Mas afinal, qual foi o objetivo mais profundo desse passeio cultural?

De acordo com Duarte (2008, p.4) “a catarse é o processo pelo qual o indivíduo receptor é colocado esteticamente em confronto com a essência da realidade, por meio da superação, ainda que momentânea, da heterogeneidade extensiva e superficial própria à vida cotidiana”. Ou seja, segundo o autor, chama-se catarse essa reação que se inicia no indivíduo que aprecia uma manifestação artística, de forma que sua percepção de mundo seja alterada e receba novos contornos, fugindo do que lhe é comumente aceito.

Essencial para qualquer pessoa, essa “catarse artística” é ainda mais importante para aqueles profissionais que trabalham com a formação de outras pessoas – como é o caso do professor.  Para o grupo do PIBID, essa chance de conhecer tanta coisa nova e poder receber novos referenciais artísticos foi uma oportunidade de ampliar horizontes, ganhar uma bagagem cultural necessária para a atividade em sala de aula e ter uma experiência real com aquilo que muitas vezes só se leva para a escola através de referenciais teóricos. Segundo Pedro, acadêmico do 2º ano do curso de Português/Francês, “essas experiências culturais ajudam no desenvolvimento da personalidade do futuro professor, contribuindo para que o professor tenha uma visão mais profunda do que é arte”. Para ele, a arte “representa algo que a sociedade deveria parar para perceber. Representa o mundo”.

PhellipPhellip, do 2º ano do curso de Português/Inglês, acredita que não se pode compreender a cultura como algo inato ao homem e desprovido de caráter experimental. “Então de que forma podemos entender um movimento social ou uma realidade abrangente e condizente com as inúmeras teorias estudadas, conceitos adotados, ideias pesquisadas, se não pela experiência?”, pergunta. Para ele, a formação de um professor nunca estará desconectada de sua formação como sujeito que reflete e atua em sociedade. “Não há amadurecimento do grupo, sistema educacional ou sociedade se não houver uma formação rica no sujeito que age – ou seja, no sujeito e professor”, afirma.

Conhecer a arte e, mais importante que isso, refletir sobre esse conhecimento, segundo a professora Rosana, coordenadora do subprojeto do PIBID de Português/Francês “é função básica para o exercício pleno do magistério”. De acordo com a professora, oferecer ao aluno oportunidades de acesso àquilo que ele muitas vezes não alcança é uma das mais importantes funções da escola. Dessa forma, experimentar “arte” nessa viagem foi uma dessas oportunidades – oferecidas não apenas aos participantes do PIBID, mas principalmente aos alunos com quem esses acadêmicos trabalharão, pois receberão referenciais artísticos reais. Para Luciano, do 3º ano do curso de Português/Inglês, “o verdadeiro professor” – e ele considera como verdadeiro aquele professor que realmente escolhe sua atividade como uma profissão – “precisa ser sensível e refletir sobre diversas coisas. Apreciar a arte é um bom exercício para isso.” Luciano acrescenta ainda que “as experiências culturais que o professor tem servem como ingrediente especial às aulas, tornando-as mais produtivas, criativas e, consequentemente, prazerosas”. Para Débora, do 4º ano de Português/Espanhol, “aprender foi a primeira etapa. Agora a meta é compartilhar os conhecimentos adquiridos no passeio”.

Participantes de um projeto do governo que investe diretamente dinheiro público na formação de futuros profissionais da educação, os acadêmicos do PIBID reconhecem e compreendem o valor que atividades como essa proporcionam aos professores em formação. “Sinto-me privilegiada, pois este projeto é uma forma de reconhecer e valorizar o trabalho do professor”, afirma Luana, caloura do curso de Português/Francês e já bolsista do PIBID. “Acredito que estes profissionais estão sendo melhor preparados para atender aos alunos que, por sua vez, serão beneficiados com métodos mais eficazes de ensino”, explica.

Para Josiane, aluna do 4º ano de Português/Francês, não apenas as atividades culturais têm sido válidas, mas toda a experiência oferecida pelo PIBID. “Temos a oportunidade de estar em contato com a realidade escolar. Isso significa que, quando estivermos com as nossas turmas, depois da nossa formação, estaremos capacitados e habituados a lidar com as dificuldades que cada aluno pode ter e cientes do grande crescimento que o conhecimento pode proporcionar ao indivíduo”. Ela acredita ainda que o investimento que o PIBID tem proporcionado aos professores em formação trará benefícios não apenas para o sistema educacional diretamente envolvido com o projeto – como a universidade e as escolas que recebem os bolsistas –, mas também para o ambiente escolar em que esses futuros professores estarão inseridos.

Perguntada sobre a importância desse investimento na formação dos futuros profissionais que participam do PIBID, a professora Rosana comenta: “Creio que a melhor palavra para responder a essa pergunta é orgulho! Estamos todos muito habituados a acompanhar a divulgação de informes sobre o mau uso do dinheiro público, de modo que divulgar uma atividade como essa de que participamos é também nossa forma de dizer que temos orgulho de gastar de forma tão produtiva o dinheiro de todos nós, contribuintes”. Formadora de futuros professores há muitos anos, a professora vislumbra o panorama geral que atitudes como essa podem proporcionar para o sistema educacional como um todo: “Destaco a importância não apenas desse Passeio Cultural, mas de todo o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência como uma iniciativa fortalecedora dos cursos de licenciatura”.

Porém, investimentos como esse, que implicam em melhorias na formação humana e profissional dos acadêmicos, apesar de representarem iniciativas significativas para o progresso da educação, ainda estão longe do ideal. “Não se deve comentar nem discutir a importância do PIBID, tendo em vista que isso deveria ocorrer com todos do curso de licenciatura”, destaca Allan, do 2º ano do curso de Português/Francês. Para ele, a educação em nosso país não recebe a real atenção que deveria. Dessa forma, projetos como o PIBID assumem ainda maior importância, pois são tentativas de criar alguma diferença no nosso sistema educacional. “O retorno é imediato para as escolas que estão envolvidas no projeto. Bacana será daqui alguns anos, quando mais gente estiver envolvida e o retorno se der pelas pessoas que fizeram parte do projeto e conseguiram mudar aos pouco algumas realidades”, comenta Allan.

De toda forma, o passeio cultural representou uma importante atividade de união e confraternização dos subprojetos do PIBID envolvidos, além de grande crescimento pessoal para cada participante. Para Débora, “foi interessante saber sobre a conservação de películas e cinema, pois são aspectos que fazem parte de um patrimônio histórico e cultural que deve ser preservado para as novas gerações conhecerem a história das gerações anteriores”. Phellip afirma que se sentiu motivado a ver de perto as obras de Goya e Poty, artistas que já admirava. “Mas ao chegar na galeria, não esperava encontrar o trabalho do fotógrafo lituano Antanas Sutkus, que, posso afirmar sem medo, é um dos trabalhos com o qual eu mais me emocionei até hoje”, comenta ele. “Fotos com expressão, luzes e história, funcionando juntamente para uma obra de arte maravilhosa. Foi uma experiência única”. A professora Rosana afirma que “estar em locais em que o cinema (no caso da Cinemateca) e a arte de modo geral (MON) são tratados com imensa seriedade e profissionalismo é uma oportunidade ímpar”. Ela destaca ainda o entusiasmo e a alegria do projecionista da Cinemateca, Valdenício Pereira da Silveira, em falar da sua experiência no trabalho com os filmes, considerando esse “um dos momentos mais emocionantes do dia”. Já para Laiane, do 1º ano de Português/Francês, arte é fundamental. “Não acredito ser possível viver sem arte. A arte é um meio de comunicação, um meio de entreter, de abrir a mente, de alegrar”, afirma. “O passeio me acrescentou de mais, aprendi muita coisa. É algo indescritível. Com certeza pretendo levar meus alunos a um passeio como esse”.





O QUE FOI VISTO NO PASSEIO CULTURAL


OS CAPRICHOS DE GOYA

Coleção de 80 gravuras feitas pelo pintor espanhol Francisco de Goya, produzidas entre 1797 a 1799. As gravuras tratam de temas como o amor, a morte e a religiosidade, e produzem uma crítica à sociedade espanhola da época. Esteve em exposição no Museu Oscar Niemeyer nos dias 26 de janeiro a 26 de abril.



ANTANAS SUTKUS: UM OLHAR LIVRE

Exposição de 120 imagens do renomado fotógrafo lituano Antanas Sutkus, que representam um pouco da cultura do leste europeu. Curitiba é a primeira cidade a receber a mostra. A exposição segue até o dia 20 de maio.





POTY, DE TODOS NÓS

Mostra de 800 produções do artista paranaense Poty Lazzarotto. Reúne desde desenhos de infância até produções de sua temporada na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Algumas produções nunca foram apresentadas para o público. A mostra permanece em cartaz até 5 de agosto.




BRAZA DORMIDA

Produção em preto e branco de 1928, dirigida por Humberto Mauro, um dos pioneiros do cinema brasileiro. O filme é considerado um dos grandes clássicos do cinema mudo brasileiro.

BRASA ADORMECIDA

Filme brasileiro de 1987, dirigido por Djalma Limongi Batista. Seu título é uma homenagem ao filme de 1928 – inclusive, algumas cenas do primeiro filme podem ser vistas quando umas das personagens assiste televisão. Caracteriza os anos 1960, com trilha sonora de Tom Jobim.


Fotografias: Phellip William (http://www.wix.com/phellipwillian/photography#!)




Referências:
ANTANAS SUTKUS: UM OLHAR LIVRE. Disponível em: < http://www.museuoscarniemeyer.org.br/exposicoes/antanas
site.html>. Acesso em: 15 de maio de 2012.

DUARTE, Newton. Arte e formação humana em Lukács e Vigotski. In: 31ª REUNIÃO DA ANPEd, Caxambu: 2008. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/31ra/1trabalho/GT17-4026--Int.pdf>. Acesso em: 12 de maio de 2012.

ECO, Umberto. Sobre literatura. Rio de Janeiro: Record, 2003.

MAXIMO, Maria José. Arte e formação humana: contribuições do marxismo. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO E MARXISMO: MARXISMO, EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO HUMANA, 5, 2011, Florianópolis. Anais eletrônicos... Florianópolis: UFSC, 2011. Disponível em: < www.5ebem.ufsc.br/trabalhos/eixo_08/e08a_t005.pdf>. Acesso em: 12 de maio de 2012.

POTY, DE TODOS NÓS. Disponível em: < http://www.museuoscarniemeyer.org.br/exposicoes/potysite.html>. Acesso em: 15 de maio de 2012.

VÁZQUEZ, A. S. As idéias estéticas de Marx. 2. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. (Pensamento Crítico, v. 19). In: MAXIMO, Maria José. Arte e formação humana: contribuições do marxismo. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO E MARXISMO: MARXISMO, EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO HUMANA, 5, 2011, Florianópolis. Anais eletrônicos... Florianópolis: UFSC, 2011. Disponível em: < www.5ebem.ufsc.br/trabalhos/eixo_08/e08a_t005.pdf>. Acesso em: 12 de maio de 2012.


Postado por Jefferson Araújo